A Adaga de Cabo Negro (Parte 1)
- Samsara Ciclos da Vida
- 20 de jun. de 2017
- 7 min de leitura
Texto orginal The Black Handled Knife: Bane of Evil Spirits retirado de A Magician's Workings, por Fra.Ashen Chassan F.:N.:F.

A reprodução, criação e o próprio uso de armas mágickas já é há muitos anos uma paixão minha. No estudo dos grimórios eu me deleitei descobrindo as similaridades dos inúmeros instrumentos mágickos como a varinha de aveleira, o Selo Salomônico, as vestes cerimoniais e a espada magicka. Dentro do gênero das tradições clássicas, eu perdi horas de pesquisa, experimentação e divinação para encontrar alguns desses materiais que iriam me servir melhor para as operações a que se prestavam.
Geralmente, eu sigo exatamente as instruções para a construção e consagração das ferramentas magickas se eu estou estudando para um grimório específico. Alguns desses instrumentos (como os que eu mencionarei abaixo) seja como for, estão descritos em inúmeros grimórios com uma pequena variação entre eles. Muitos outros estudiosos e magos práticos têm escrito com a intenção de compartilhar suas criações e seus pontos de vistas no assunto. Seus esforços juntamente com escritores grimoriais notáveis e estudiosos tem realmente aberto o caminho para outros trilharem e encontrarem o que eles estão procurando com mais facilidade e clareza.
Não acho necessário comentar que muito da minha pesquisa vai muito além de simples interesse acadêmico e teorização. Eu acredito que os instrumentos ritualísticos servem para um propósito necessário e atuam em uma função específica (N.T.: um dos pontos para o qual não se deve usar um instrumento para mais de uma função). Em algumas instâncias eles proporcionam a proteção necessária e defesa contra algumas situações e seres muito (possivelmente) perigosos. Nesses casos, essa seria uma rara ocasião, em que seria necessário o uso de algo para proteção, tal qual uma arma com a cautela de um símbolo de autoridade. Eu prefiro exagerar no campo da cautela, quando é necessária interação espiritual. É melhor estar mais preparado nessas circunstâncias.
Como com a espada mágicka, a adaga cerimonial de punho negro deve ser preparada para se tornar um símbolo muito potente, para impor autoridade e submissão – e possivelmente punição para os espíritos hostis. Sendo muito conectada aos aspectos austeros de Saturno e Marte. Os grimórios modernos dizem para construí-lo no dia e hora de Saturno, todavia você encontrará que essa mesma arma nos grimórios gregos deve ser feita no dia de Marte. Após procurar nas minhas fontes eu proponho que a arma seja criada em um dia e reconsagrada em outro. Uma outra ideia seria possivelmente forjar a arma no dia e hora de Marte e consagrá-la adicionando os símbolos e sigilos no dia e hora de Saturno.
O suco de Cicuta (Hemlock juice) mencionado como parte do processo de forja, é uma planta venenosa associada a Saturno. Como é letal quando consumida, era conhecida desde a Grécia Antiga e outros lugares que poderia levar um homem à morte. O gato negro que é encontrado em outras versões da Chave de Salomão (N.T.: Clavícula de Salomão), também deveria ter seu sangue adicionado na lâmina durante o temperamento do metal.
Eu encontrei menções na ritualística Grega e Romana a respeito do uso de facas, as quais eu comentarei mais abaixo. Eu me lembro de leituras anteriores que mencionavam que padres deveriam usar uma faca de punho negro para cortar a relva e possivelmente a madeira para o altar (ou para o fogo sacrificial) e o faca de punho branco ou marfim, deveria ser usada para o sacrifício de animais.
Também é dito que a faca de punho negro deveria ser mais como uma machadinha e deveria ser mais larga e pesada.
Muito a respeito da faca de cabo negro já foi dito e blogado, então farei o meu melhor para (esperançosamente) adicionar novas informações e ideias para os magistas e grimoristas interessados.
Primeiro, vamos dar uma olhada nos itens da faca e como ela deve ser feita:
Materiais:
Ferro/Metal: Ferro ou metal forjado possuiem obvias conotações para com o poder, armas ainda mais e guerra. O metal/Ferro é sagrada para Ares ou Marte. Parece que o [material do] punho mais comumente usado seria osso/marfim ou o chifre de um bode ou carneiro negro. Os chifres de animais são usados desde a antiguidade para instrumentos mágicos e implementos para rituais. Chifres são comumente associados com poder, força e uma natureza fértil.
Studies in Biblical and Semitic Symbolism por Maurice H. Farbridge diz:
Os chifres eram lembrados como a coroa do deus Lunar Sin e posteriormente vieram a simbolizar seu poder. Como resultado desse chifre, ele se tornou entre os Assirios um símbolo genérico de divindade e podemos também compreender porque os Reis Assírios, em ordem de simbolizar seu poder, regularmente se adornavam com uma coroa de chifres. Sin era descrito como “aquele que traz o mais exaltado dos chifres (KB. Iv, 102, nashi qarne siruti); por isso muitos dos reis babilônicos e assírios eram representados usando chapéus arredondados como chifres paralelos circundando eles à frente.
Deidades Hititas usavam chapéus ornamentados com ínumeros chifres e Deusas Feníncias eram geralmente retratadas como tendo os chifres de uma vaca como Ashtoreth Karnaim (“que tem dois chifres”). Na religião egípcia Hathor, Ra e Cneph geralmente são representados com chifres, e uma parte dos adornos de cabeça do Rei Egípicio era consistida de chifres (...). Similarmente, na literatura hebraica a palavra “chifre” é um equivalente para poder. “Quebrar os chifres” de uma pessoa significa derrota-la, “Erguer os chifres” significa orgulho, vitória. Balaam descreveu Deus como tendo os chifres de um boi selvagem (N.T.: Esse argumento será considerado em outro ponto desse texto) (...).
Parece justo [compreender] que em certas instancias os chifres usados pelos deuses eram realmente relíquias de sua antiga forma animal, na qual o chifre se tornou um símbolo de poder, porque o homem notou como o animal fazia uso de seus chifres como uma força destrutiva.
A própria forja da faca de punho negro é um processo interessante: um trabalho de um alquimista e de um artista. A violência e a força necessária para temperar a lâmina com suas próprias mãos é o bastante para por o intento da ferramenta em ação.
Eu atualmente sou um esnobe colecionador de espadas e praticante de artes marciais como laijutsu e Kenjutsu (manejo de espada) na tradição Japonesa. Eu presto atenção particular para, não apenas como a espada é feita, mas para os tipos de metal que são usados nela e em como o processo de forja é conduzido.
O derretimento, a moldagem e a combinação dos elementos juntos é algo a se prestar atenção.
Você vai achar no folclores dos Fae (fadas) ou dos espíritos celtas/deuses/fadas que o ferro é usado para bani-los, especialmente aqueles que estão mais próximos da terra estão cansados do metal temperado e das lâminas em geral ( ).
No excelente trabalho “The Magical Treatise of Solomon ou Hygromanteia (.: ) (Sourceworks of Magic Series)” Ioannis Marathakis cita Nikolaos Politis descrevendo uma tradição de Messara em 1904:
“Alguém estava indo para Khrousa com um amigo. Em algum lugar eles pararam por um tempo e então se separaram. Nesse momento em que eles se separam, fadas o encurralaram e elas estavam falando com ele. Ele não entendia o que elas estavam dizendo, mas ele tinha ouvido que se alguém deitasse uma faca de cabo preto no chão, elas iriam embora. Por sorte, ele tinha essa faca, ele a deitou no chão e elas foram embora”.
2. Design e símbolos/sigilos

N.T.: A respeito da imagem apresentada, no site original consta como a Perspectiva Wicca dos símbolos contidos na Faca de Punho negro. Vamos nos lembrar que estamos falando de magos e padres do século 13, cujos manuscritos foram derivados de originais gregos e latinos. Esses manuscritos foram provavelmente adaptados de antigos tratados gregos, sumérios e babilônicos.
Símbolo 1: A descrição da imagem diz: A Serpetente, símbolo da vida e do Renascimento. Por mais que eu realmente acho o significado plausível, eu não consigo entender porque ele estaria em uma faca feita para aterrorizar os espíritos.
Interpretação da Tradutora - A Letra Sigma:

Primeiramente, a letra Sigma foi a letra com a qual os primeiros cristãos na Grécia indicaram Deus. Ela era usada como um sinal de reconhecimento, graças ao fato de que a palavra Sóteros (salvador, do Grego) começa por Sigma e termina por Sigma. As primeiras lâmpadas gregas do século 4 eram marcadas com a letra Sigma.
Harold Bayley, em The Lost Language of Symbolism, Volume 2, nos permite uma visão melhor a respeito do assunto:
A palavra Sigma se resolve em is ig ma, a “Luz da Poderosa Mãe”. No alfabeto árabe o equivalente para Sigma é chamado de za, que pode ser um cognato do europeu zee ou sea. A ideia que Z, o símbolo original de sigma, uma vez já representou o zigzag da poderosa Luz, é para alguns, suportado pelos nomes gregos e hebraicos para Z. No grego Z é Zeta, que nos retorna a zee t a, o Fogo do Respladescente A. A forma mais antiga ou sinais de Zayn, do Hebreu para Z, são também admitidas como uma chama.
Símbolo 2: A descrição da imagem diz: O nome de Deus. A versão que tenho na minha Clavícula de Salomão, se parece mais com o símbolo abaixo do que com a versão usada na imagem analisada pela vertente Wicca. Abaixo uma tabela com os 72 nomes de Deus para comparação.


Acredito que a opinião do autor se deve ao fato de que o desenho lembra vagamente a letra HEI do alfabeto hebraico.

Interpretação da Tradutora - A Letra TAU do Grego.


A explicação vem diretamente dos Franciscanos, pelo Frei Vitório Mazzuco:
“O TAU é selo de Deus; significa estar sob o domínio do Senhor, é a garantia de ser reconhecido por Ele e ter a sua proteção. É segurança e redenção, voltar-se para o Divino, sopro criador animando nossa vida como aspiração e inspiração. (...) É cruz vitoriosa, perfeição, salvação, exorcismo. Um poder sobre as forças hostis, um talismã de fé, um amuleto de esperança usado por gente devota sensível.”
Símbolo 3: A descrição da imagem diz: A fluidez do poder do Deus Córneo.
Interpretação da Tradutora – Mercúrio e a Flecha

Segundo Matilde Battistini em Astrology, Magic, and Alchemy in Art, a flecha usada no símbolo do signo de Sagitário simboliza o espirito e na Idade Medieval, o símbolo do Sagitário foi associada ao cristo e ao Cavaleiro Branco do Apocalipse.
E, havendo o Cordeiro aberto um dos selos, olhei, e ouvi um dos quatro animais, que dizia como em voz de trovão: Vem, e vê.
E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer.
Apocalipse 6:1,2
Jung descreve em The Psychology of the Transference, que a flecha se refere ao telum passionais de Mercúrio, também o Espírito de Mercúrio, traduzido do Sermones in Cantica: “A palavra de Deus é como uma flecha: é vívida e efetiva e mais penetrante que a espada de dois gumes. ”
Em Mysterium Coniunctionis: Rex e Regina; Adão e Eva; A Conjunção, Jung descreve que Mercurio é o Sagittarius (flecheiro), que do ponto de vista alquímico é o único a dissolver o ouro e penetra a alma como telum passionais (o dardo da paixão). É importante lembrar a esse ponto uma noção universalista que às vezes nos escapa.
Mercúrio é o Hermes romano, ligado a Toth e portanto ligado a sua versão persa/judaico mística Metatron. Metatron é evocado quando os espíritos não obedecem ao comando do mago como último subterfúgio e o caminho pelo qual os dicipulos entram no círculo de proteção, das versões mais antigas do círculo mágico, se chama Via de Metatron.
Fra.Ashen Chassan F.:N.:F - Tradução e adições por Leona Volpe.
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